Se tivermos um sonho, devemos
persegui-lo, pois o máximo que poderá acontecer... Será dar certo! Essa
frase, de minha autoria, representa a filosofia por que sempre me guiei.
Por força disso, hoje tenho o privilégio de compartilhar com todos um fato
ímpar que me aconteceu.
Desde a adolescência percebi que o escrever e
eu seríamos um só. Restava-me, no entanto, decidir entre duas lindas primas. A
poesia, loira sensível, fazia-me devanear a cada vez que lhe escutava a voz melíflua.
A prosa, morena fogosa, levava-me à ebulição tão só lhe fixava as curvas
enigmáticas. Ó dúvida lancinante!...
Resolvi, então, pedir ajuda a um dos meus
preferidos, e fui me consultar com Voltaire. O iluminista, que lá do Empíreo já
pressentira o meu dilema, não precisou de nenhuma anamnese para me nortear a
escolha. Com a habitual perspicácia, pegou do seu conto A princesa da
Babilônia e relembrou-me que a verdadeira poesia é natural e harmoniosa, e
que tanto fala ao coração como ao espírito. Ora, longe de me melindrar, essa
luz me fez reconhecer a distância que em mim havia entre a efêmera poética da puberdade
e o imorredouro dom dos poetas. E me enamorei de vez pela morena. A escrita,
incipiente que fosse, por óbvio que mais agradava ao meu ego do que aos poucos
leitores para quem não me fazia de rogado – esses, na maioria, pertencentes à
parentela. Mesmo assim, não me deixava abater, pois, como disse, o sonho tem
que ser perseguido.
E seguia com minhas garatujas. Certa vez,
quando cursava o então terceiro colegial, os professores de português da escola
onde estudei – o glorioso colégio Bandeirantes – tiveram a ideia de compor uma
coletânea de contos escritos pelos alunos. Ora, disse para mim mesmo, “Eis aí a
minha chance!” É fato que, num primeiro momento, fiquei eufórico quando soube
que minha história tinha sido pré-selecionada. E mais deslumbrado fiquei quando
a colega da perua escolar por quem arrastava um caminhão me recobriu de
elogios, a mim e ao meu texto.
Agora não me lembra se o fora que levei foi
antes ou depois de constatar que o meu conto não integrara aquela coletânea...
Recuperado do duplo desengano, só me restava
seguir adiante. Os nãos, contudo, assomavam, mormente quando passei a tentar os
concursos literários. Foi aí que divisei um caminho seguro: era preciso devorar
os clássicos para aprimorar a minha técnica. Interessante mencionar, e digo
isto cheio de orgulho, que essa rota era-me inata; ninguém ma incutiu! E quão
grato fiquei quando, lendo também biografias, descobri que Fielding e Balzac
sentiram a mesmíssima necessidade.
O gosto pela leitura, os monstros sagrados da
literatura universal, o conhecimento que o Direito me proporcionou, tudo, enfim,
me ajudou, e muito, a que a prosa em mim se aperfeiçoasse, se acrisolasse. A
propósito, fiquei muito estimulado ao saber do percurso por que passaram vários
autores consagrados, do passado e contemporâneos, pois que cursaram primeiro as
ciências jurídicas para só depois se dedicarem ao ofício de escritor.
E o tempo seguiu sem pressa. Formei-me na
faculdade, passei na Ordem dos Advogados do Brasil, advoguei, conquistei o
título de Especialista em Direito Penal pela Escola Superior do Ministério
Público do Estado de São Paulo, lecionei por sete anos na Universidade Paulista
– UNIP, escrevi livros e artigos técnicos... E jamais abdiquei do meu sonho.
Aliás, este provérbio japonês, e que também espelha o meu âmago, a
perseverança, acabou por fincar raízes na minha cabeceira: Cair sete vezes;
levantar-se oito.
É claro que nesse meio tempo fiz o que a
sabedoria popular recomenda a uma vida plena: cheguei a comer abacates do pé
que eu mesmo plantei, sou confessadamente um pai babão de um garoto de seis
anos, e o primeiro livro que escrevi foi um romance épico-histórico (nos moldes
de Sir Walter Scott), e com “apenas” 117 itens de bibliografia. Esta
última conquista, com efeito, ter-me-ia levado à plenitude. No entanto, problemas
alheios à minha vontade fizeram-me propor um distrato, que foi aceito. E todos
os direitos me foram devolvidos. Assim – e, sem dúvida, isto é subjetivo –, a realização
que pensara ter alcançado como que deixou de existir; como se alguém me tivesse
furtado uma meia-porta lateral de um valiosíssimo tríptico que tanto cobiçara. Que
se busque a reedição! resolveriam uns. É fato que a almejo. Todavia, a consagração
da minha prosa acabaria chegando por um meio até então impensado – a ousadia.
Ora, pensava comigo, por que não arriscar? por
que não confiar na minha capacidade, no meu talento como escritor? E relembrava
a minha filosofia de vida... E pesquisei, e esperei. Pois a porta finalmente se
abriu em 2010, com a convocação para um concurso literário de âmbito
internacional! – o Concurso Mundial de Cuento y Poesía Pacifista, e que foi
divido em várias categorias linguísticas, para uma equânime apreciação.
Pacifismo?! Mas quem, nos dias de hoje, se
interessaria por algo tão improdutivo, tão pouco lucrativo? Pois centenas de
escritores, do mundo inteiro, a ele se entregaram, a ele se dedicaram, e com
toda a pureza de sua arte.
E qual não foi a minha surpresa quando, lendo
certo dia os meus e-mails, notei que um deles vinha escrito em espanhol. Tive
que ler e reler, não para entender a mensagem, mas para acreditar que, na
modalidade conto em português, fora eu o vencedor daquele certame!
Algum prêmio em dinheiro? E haveria quem
patrocinasse com numerário um concurso pacifista?... No entanto, a alegria de
ter participado, e pela primeira vez, de um concurso internacional, e de ter
sido o vencedor, ah! isso não tem preço. Ademais, e como se essa vitória não
bastasse, inscrevi o mesmo conto em um outro concurso, o Primeiro Concurso
Literário Oliveira Caruso, de 2011, na Categoria Poesias. E obtive a Medalha de
Ouro! Seria coincidência? Creio que só com relação à minha filosofia de vida,
pois o título do conto é Nunca desânimo.
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