Faça
uma lista de grandes amigos,
quem
você mais via há dez anos atrás...
Quantos
você ainda vê todo dia?
Quantos
você já não encontra mais?
Osvaldo
Montenegro
Quando
resolvi escrever sobre Evando, não foi para falar de tristeza, muito menos de
morte, afinal, homens como o Prof. Manoel Evando dos Santos não morrem, pois,
as suas atitudes permanecem para sempre. Ele foi uma daquelas pessoas, que
quando se aproximava da gente, tornava-se difícil de esquecer. Aquela figura
que era uma mistura de jogador esforçado, e que se achava um craque. Professor
por paixão e amigo dos seus amigos.
Conheci
Evando no começo da década dos anos 70, quando fui aluno do Colégio Estadual.
Em sua primeira aula fiquei com raiva. Fazia a 7ª série e o primeiro exercício
que ele passou dava uma solução que terminava em 3 X 0. Resultado que indicava
a vitória do Náutico, no dia anterior, sobre o meu Santa Cruz. Já olhei
atravessado para aquele professor de matemática, mas, confesso que depois disso
nunca esqueci dele. O tempo passou e eu me acostumei com o torcedor doente do
alvirrubro, e com suas constantes ironias sobre futebol. Agora, se você
quisesse ver uma fera, falasse do seu time de coração, quando o mesmo perdia!
O
tempo passou e voltei a ser aluno de Evando no Diocesano, ai descobri sua outra
paixão pelo futebol, sendo ele da cidade de Correntes, situada no Agreste
Meridional de Pernambuco, um dos seus primeiros times foi a Correntina de
Desportos, sendo o seu maior centroavante, e terminei aprendendo, com os
tempos, todos os seus principais gols. Mais tarde, assistindo jogos da seleção
na casa dele, quando um atleta perdia um gol ou fazia uma jogada errada, ele
enchia o peito e dizia: “ah! se fosse aqui no meu pé, que eu iria ensinar como
se fazia”. E no calor da emoção “metia o pau” no atleta de todas as formas,
colocando-se como exemplo, para quem quisesse aprender futebol. Assim era
Evando, antes de tudo um homem que colocava emoção em tudo que fazia.
Professor
Eugenio, seu colega de profissão e da mesma disciplina, emocionado, disse: “A
Educação de Garanhuns está de luto. O Esporte da Cidade das Flores sofre com
essa grande e irreparável perda. Não temos mais a convivência do professor
Manoel Evando dos Santos, conhecido por muitos como Evando Lustosa. Natural da
cidade de Correntes-PE, mas adotou a Suíça Pernambucana e fez daqui a sua
morada. Tinha 74 anos. Foi o professor de Matemática de várias gerações. Fez
parte do quadro de profissionais da Escola Professor Jerônimo Gueiros (Colégio
Estadual de Garanhuns), do Colégio Diocesano de Garanhuns, da Faculdade de
Formação de Professores de Garanhuns/Universidade de Pernambuco, além de outras
instituições que contaram com os seus serviços na área da educação. Além da
educação, tinha outra grande paixão. Era torcedor do Náutico, onde foi sócio
benemérito. Em vida, contribuiu muito para o engrandecimento do futebol
profissional da AGA – Associação Garanhuense de Atletismo e do Sete de
Setembro. Também fez parte do Nacional, clube amador de Garanhuns, onde foi
sócio e atleta”.
Quero
concluir essa homenagem, lembrando dos amores de Evando: A família, onde era apaixonado
pelos(as) filhos(as): Roberta (in memoriam) Rivelino, Renata, Renato, Ricardo e
Eliane (essa com muito carinho, minha afilhada, um presente especial que ele e
a esposa Wilde, deram a mim e a Salete) e sua última filha Cláudia. Mesmo
depois de mais de 20 anos do falecimento de Roberta se referia a ela com os
olhos cheios de lágrimas, com um amor constante e infinito.
A
educação era seu dia a dia. Orgulhava-se dos(as) seus(suas) alunos(as) e
ex-alunos(as). Sendo discípulo do Mons. Adelmar da Mota Valença, muitas vezes,
era duro com os(as) estudantes, porém quanto mais reclamava, mais eles gostavam
do prof. Evando. Depois nem lembrava do que tinha dito. Voltando a ser a
criança que conquistava as amizades e levava pra sempre no coração. Educar,
mais do que dar aulas, dava exemplos de vida, o que sabia fazer com carinho e
muita emoção.
Os
Colégios onde educou, e me perdoem os outros, mas, refiro-me a dois. O Estadual
de Garanhuns, onde ensinou por 30 anos, e o Diocesano, onde lecionou por 35
anos, passando por 3 diretores: O padre Adelmar, por quem tinha uma grande
admiração, o padre Ivo seu amigo pessoal e por mim, onde trabalhamos juntos por
30 anos. No Diocesano foi por 3 vezes presidente da Associação dos ex-alunos,
inclusive em duas datas emblemáticas, nos 70 e 100 anos. Era uma figura ímpar,
querendo ver tudo organizado. E quem falasse ao contrário, deixava os seus
brios feridos.
Deixei
por último um dos seus principais amores: As amizades. Como Evando era amigo
dos(as) seus(suas) amigos(as), cuidava de cada um(a). Preocupava-se com
todos(as), nos momentos complicados. É difícil fazer uma relação de todos(as),
mas, na área da educação, lembro de alguns(as) por motivos óbvios, tanto pela
amizade constante, como pelas desavenças históricas que nos levava as
gargalhadas. Adilson, Souza, Aldemir, Eugenio, Ari Pereira, Carlos Guilherme,
Luiz Tenório, Antônia Zedinira, Maria José, Lenice, ... , meu Deus, quantos e
quantas compartilharam dias e homéricas pelejas com Evando.
Eu
sou testemunha do seu cuidado com os(as) amigos(as), pois durante minha doença,
ele me ligava e sempre que era possível, chegava para uma conversa. Nem sua
dificuldade de locomoção o impedia de sair de casa, dirigir e rever a
todos(as). Em sua última visita eu estava na UNIC. De repente, entra Evando, já
cansado. Eu sorri, e indaguei: Evando, como você vem para uma ladeira dessa?
Consegue subir? Ele me respondeu imediatamente: “Quem não consegue és tu, eu
estou um menino”.
E,
assim era o prof. Evando. Com suas histórias e aventuras. Disse aos(às)
filhos(as) e agora repito. Um homem como ele não morre, continua nos(os)
seus(suas) amigos(as). E encerro imaginando uma sena que deve acontecer no céu.
Quando D. Almira, com sua meiguice, vê-lo, vai logo dizer: “Menino, nem aqui tu
me deixas em paz”! E os dois irão rir de tudo isso.
Uma
homenagem dos Professores Albérico e Eugenio
ao Prof. Manoel Evando dos Santos.
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