No início de 2015, foi divulgado o resultado de uma pesquisa feita pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que aponta o Brasil como sendo o país que mais perde tempo em sala de aula contendo a indisciplina dos alunos. Essa organização consulta dados em países como Finlândia, Suécia, República Tcheca, Malásia, Holanda, Estados Unidos, México, Estônia, França, Canadá, Chipre, entre outros. Repasso alguns dados que são importantes para uma compreensão da nossa conversa.
- 20% de uma aula são usados para acalmar os alunos e organizar a classe.
- 13% são para lidar com assuntos burocráticos, desde avisos a chamada.
- 10%, para responder perguntas que não têm haver com o assunto.
Ficando pouco mais de 50% para lidar com o assunto da aula, propriamente dito. Sem tirar os imprevistos, que são muitos, e vão desde as participações de alunos até as interrupções das aulas para avisos fora do conteúdo. Se fizermos uma comparação com outros países, temos um estudo que afirma que 87% da aula são usados para tratar do conteúdo. Lógico, que como toda estatística tem suas falhas, e se tratando de vários professores, uns têm mais domínio da turma e dos conteúdos, que outros.
Voltando hoje a falar de educação, o faço também para tratar do nosso péssimo desempenho no Exame Internacional, onde é avaliada a educação em vários países do mundo. Mas, é bom começar refletindo sobre o PISA: Programme for International Student Assessment – traduzindo, é o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada de forma amostral a estudantes matriculados a partir do 7º ano do ensino fundamental, na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. É gerido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), havendo uma coordenação nacional em cada país participante. No Brasil, é de responsabilidade do Inep. O objetivo é produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade do conhecimento nas nações integrantes, de modo a subsidiar políticas de melhoria do ensino básico. Procura verificar até que ponto as escolas estão preparando seus jovens para exercer o papel de cidadãos na sociedade contemporânea.
As avaliações acontecem a cada três anos e abrangem três áreas do conhecimento – Leitura, Matemática e Ciências – havendo preocupação, a cada edição do programa, dá ênfase a todas. Sim, mas, o que tem haver o PISA com o comportamento em sala de aula? Tudo, pois os países que têm a melhor disciplina, apresentam o maior rendimento entre os alunos. Infelizmente, na última, em 2016, ficamos em penúltimo lugar, atrás da Bolívia e de Honduras. Nada contra esses países, mas é de se esperar muito mais de uma nação que é hoje a oitava potência econômica do mundo. Sabemos que sem educação e saúde, não podemos ir muito longe.
Vamos, de forma bem objetiva, começar refletindo: o que é Indisciplina? É fácil responder didaticamente, mas, é necessário compreender os valores que levam a ela. Pensamos sempre, que a mesma é somente conversa, bagunça, bullying, violência, etc. Não devemos considerar nem as causas, nem os efeitos. Rotular o aluno como um problema, parece ser algo perverso na educação. As causas são várias, passando pela família e seus conflitos, proposta da escola, legislação do País, preparo do professor e até por problemas pessoais de ordem emocional, que atingem os estudantes.
Uma indagação que sempre se faz: o professor tem culpa da indisciplina na sala de aula? Difícil de responder, porque se a pergunta é dúbia a resposta é mais ainda. Para alguns, se o professor dominar o conteúdo, a disciplina da classe está dominada. Em parte, concordo, mas volto a lembrar que a mesma não tem somente um fator, portanto, buscar ou acusar separadamente alguém é errado. Muitos são os culpados e vejam o resultado do nosso ensino. Podia acrescentar que com a BNCC, poderemos ter classes disciplinadas e alunos motivados. Respondo com um sonoro NÃO, pois, hoje já se questiona essa nova Base da Educação. Não sabemos o que vai acontecer, até porque, como já disse em outro artigo, com a mudança política de outubro, tudo pode mudar.
Vamos ver algumas das causas da indisciplina em sala de aula, segundo dados do próprio Ministério da Educação.
1. ATRAÇÃO: A escola não consegue mais atrair o jovem brasileiro, e o que prova isso são as estatísticas do Ministério da Educação (MEC). Segundo a pasta, a quantidade de matrículas no ensino médio caiu de 8,7 milhões para 8,3 milhões na década de 2002 a 2012.
2. UTILIDADE DO ESTUDO: O estudo revelou que os jovens não percebem utilidade no conteúdo das aulas. As disciplinas de língua portuguesa e matemática são tidas como as mais úteis por, respectivamente, 78,8% e 77,6% dos alunos. Já geografia, história, biologia e física são consideradas descartáveis para 36% dos entrevistados.
3. FALTA DE ATIVIDADES PRÁTICAS: Os estudantes desejam atividades mais práticas e alegam que exemplos do cotidiano usados em sala de aula facilitariam o aprendizado. Mesmo que não considerem o conteúdo relevante para a vida, os jovens acreditam que o certificado do ensino médio garante mais chances no mercado de trabalho.
4. MERCADO DE TRABALHO: O modelo de ensino oferecido pelas escolas não corresponde a essas expectativas e, por isso, muitos estudantes optam por parar de estudar para poderem trabalhar.
5. FALTA DOS PROFESSORES: As constantes ausências dos professores também diminuem as chances das escolas reterem os alunos. Cerca de 42% dos entrevistados, por exemplo, não tiveram pelo menos uma das aulas programadas no dia anterior à data de participação na pesquisa. Segundo os jovens, também é problemática a relação interpessoal com os educadores.
6. RELAÇÃO FAMILIAR: Sobre isso, não preciso falar muito. Mas, a disciplina da escola começa em casa.
E quais são as soluções para diminuir a indisciplina na sala de aula? Temos muitas que funcionam de acordo com o nível dos alunos e a preparação dos professores. Em um próximo artigo iremos falar sobre elas. Mas, quero terminar este lembrando uma frase que deveria ser colocada em todos os Colégios e os alunos deviam copiar e levar para casa, para discutir com os pais: AQUI SE ENSINA CONTEÚDOS PARA A VIDA, EDUCAR É PAPEL DA FAMÍLIA.
Prof. Albérico Luiz Fernandes Vilela
Membro da União Brasileira de Escritores
Membro da Academia Pernambucana de Educação
Membro do Lions Club Internacional
Diretor Pedagógico da UNIC – Universidade da Criança